Minha entrevistada foi Tatiana Wokmer Roveré Montezuma - Jornalista e bacharel em Direito, Analista Judiciário do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF) lotada na Assessoria de Comunicação Social (ASCOM).
Escolhi entrevistar Tatiana, pois ela faz dois trabalhos que eu gostaria de seguir, como assessora de comunicação social e trabalhar com direito e já fez projetos interessantes para o meio ambiente e também entrevistou pessoas como Ayrton Senna. Assim, pude descobrir um pouco mais da sua carreira.
1. Após anos de trabalho no Jornalismo, como surgiu o interesse por trabalhar no Direito?
Em primeiro lugar, me cabe esclarecer o seguinte: aos 17 anos, quando morava, ainda, no Rio Grande do Sul, passei em dois vestibulares. Na Universidade Católica de Pelotas, para jornalismo, e na Universidade Federal de Pelotas(UFPEL), para direito. Interessada em morar em Porto Alegre, onde nasci, consegui a transferência, junto à Católica, e terminei o jornalismo na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em 1984. Já o direito, tranquei na UFPEL, e só voltei a cursá-lo alguns anos depois, já em Brasília/Distrito Federal, após conseguir a transferência.
Isso porque buscava uma segunda profissão que me desse maior estabilidade. Nos anos 80, quando ingressei no jornalismo, trabalhava, para aumentar a renda em dois empregos: pela manhã, em uma tv, e, à tarde, em um jornal impresso. E era constrangedor ter de lidar com o assédio sexual nas redações. Como eu me defendia e, também, às “coleguinhas”, e não cedia a esse maléfico jogo, acabei por ser demitida do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), por exemplo, onde era repórter de vídeo, pelo então principal diretor daquela tv, à época, recém instalada na Capital.
Outro problema que acontecia, periodicamente, era a troca do grupo que dirigia as redações. Quando isso ocorria – e nunca sabíamos quando seria, o novo grupo a comandar a redação, poderia ou não manter os nossos empregos. Normalmente, no entanto, havia uma demissão em massa, e jornalistas amigos do novo chefe de redação e de seu grupo, é que tomavam o espaço antes nosso.
Esses foram os dois motivos, principais, que me levaram a voltar para o direito, e alavancar uma carreira no serviço público. Estudei, muito, e passei em alguns concursos, graças a Deus. Optei por trabalhar no poder Judiciário, onde poderia exercer as duas profissões. E é isso que tenho feito. Além disso, posso citar um terceiro motivo, a seguir: a remuneração de jornalista merece, inúmeras vezes, um complemento, quando, por exemplo, a família aumenta. Nesse caso, é interessante ter “um pé na iniciativa privada e, outro, no serviço público”, pois, em tempo de desemprego – que pode vir a acontecer, seja lá por qual motivo – haverá o ganho do poder Público, no qual há estabilidade.
Para elucidar a questão das possíveis causa de demissão, há uma que penso ser importante registrar aqui. Um repórter descobre um “deslize” cometido por um anunciante do jornal, e leva ao chefe de redação que, por sua vez, é obrigado a, antes de publicar a matéria, conversar à respeito com um dos diretores do jornal que, por fim, decide pela não divulgação do texto. Nesse caso, o jornalista se irrita porque investigou e descobriu uma verdade, que é de interesse público, mas aquele veículo de comunicação prefere manter o anunciante do que dar visibilidade ao caso. Isso gera discórdia e quem sai perdendo o emprego é o repórter. Eu acompanhei o caso de um colega, que viveu essa experiência, em um jornal impresso, em Brasília, há mais de 25 anos. Hoje, ele é editor-chefe de revista de grande circulação nacional. Portanto, o melhor, na minha maneira de ver, é nunca ir contra os seus princípios. Aguentar o período de “vacas magras” – renda familiar reduzida, mas não se corromper. Com o tempo, o reconhecimento vem. E não demora muito, não. E o contrário acontece, também; ou seja, o jornalista sem escrúpulos, cedo ou tarde, perde o crédito “na praça” e, dificilmente, o recupera.
No Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF) sou Analista Judiciário e lotada na Assessoria de Comunicação Social (ASCOM), mas, neste tribunal, já trabalhei em gabinetes de desembargadores federais elaborando minutas (modelos) de decisões (decisão monocrática do desembargador) e acórdãos (decisões de um grupo formado por três desembargadores) para a autoridade analisar e, concordando, assinar; e, discordando, refazer de modo a atender as suas exigências.
Então, creio ser oportuno, neste espaço que me foi dado, dizer o seguinte: é vantajoso, para o jornalista, se especializar em uma área haja vista que, naturalmente, pela experiência que adquire, ter maior domínio do que o não especializado, de escrever sobre assuntos referentes aquele setor. Por isso, na ASCOM, do TRF da 1ª Região, por exemplo, quando é preciso transformar “a redação oficial, que permeia uma decisão judicial de interesse público, em um texto jornalístico, tenho mais facilidade, que boa parte dos colegas, por causa da minha formação acadêmica aliada a experiência nas duas áreas profissionais. E a matéria, além de ganhar em qualidade, o risco de cometer um erro, ao descrever uma decisão jurídica, é menor.
2. Qual foram as principais marcas nestas duas carreiras?
Trabalhando, como jornalista, em empresas privadas de comunicação, em Brasília, guardo recordações de entrevistas com nomes que marcaram suas áreas de atuação. Pessoas que entrevistei, por exemplo, e que não esquecerei porque tinham, sempre, lições de vida a passar, quais sejam: Ayrton Senna e Ulysses Guimarães.
Momentos políticos fortes, em Brasília, como a as “Diretas já”; a morte de Tancredo Neves antes da posse como Presidente da República; a promulgação da nova Constituíção, em 1988.
Já trabalhando na ASCOM, do TRF da 1ª Região, acompanhei julgamentos importantes, de repercussão internacional, como o envolvendo o dos Pilotos do Legacy que provocaram a queda do avião da Gol, em Manaus (Amazonas).
Na área jurídica, tive acesso a ações judiciais que envolviam questões, para mim, inimagináveis. Dentre as quais, uma ação por meio da qual uma das partes era a União, e a outra, um País da Europa, que havia remetido “resíduos atômicos”, lacrados em uma caixa (segundo eles, fortemente protegidos), para o Brasil, e mantidos em uma piscina, em um Estado da Amazônia Legal. A união requeria autorização para remessa do conteúdo ao País de origem; esse, por sua vez, requeria a permanência no Brasil por não oferecer risco algum.
Aprendi, com a vivência, que tanto o jornalista quanto o magistrado, se deparam com situações, por vezes, completamente estranhas. O que iguala as duas áreas é, sem dúvida, a busca pela verdade; o que difere é o que fazer com a verdade a que se chegou. Nesse caso, ao jornalista, cabe a divulgação do fato; ao julgador cabe analisar as provas, ouvir as partes, “formar o seu convencimento sobre o assunto”, e proferir a sentença.
Ambas as profissões são interessantíssimas, e o mais importante que fiz, sem dúvida alguma, em toda a minha carreira, foi juntar o jornalismo e o direito, confeccionar um trabalho chamado “Projeto Amazônia: TRF da 1ª Região em Defesa do Meio Ambiente”, e, dando visibilidade a ele, conseguir que autoridades, de diversas áreas profissionais, o apoiassem, e os deputados e senadores criassem, no Congresso Nacional, as primeiras varas federais Ambientais e Agrárias na Amazônia Legal para defesa do meio ambiente. Isso, para o bem desta e das gerações futuras. E assim, depois de quatro anos, graças ao Nosso Pai Querido, e muito trabalho, foram criadas e instaladas seis varas especializadas em direito Ambiental e Agrário na Amazônia Legal: em Manaus/Amazonas; Belém, Santarém e Marabá/Pará; em Rondônia/Porto Velho; e São Luís/Maranhão.
Isso me deixou muito satisfeita comigo mesma porque consegui, e, friso, com a força que Deus me deu, e juntando o aprendizado que obtive, ao longo da vida, em jornalismo e direito, fazer algo em prol dos moradores desta grande casa chamada Terra. A Amazônia está entre uma das principais regiões, do mundo, responsáveis pela manutenção climática do planeta. Gostaria, sinceramente, que ficasse bem claro, nesse espaço, que contei isso não para “fazer auto-promoção” e, sim, para mostrar que, com a ferramenta de trabalho que os jornalistas tem podem, sim, ajudar na concretização de bons trabalhos para o bem de todos. E isso traz muita felicidade por se fazer algo útil, por trazer um sentido especial à vida.
3. Por trabalhar no governo do Distrito Federal (GDF), e na Justiça do trabalho, tem uma visão mais ampla do Governo, que mudanças pensa que seriam necessária para melhorar o Brasil?
É preciso, de imediato, que o PT saia do poder haja vista a busca pela implantação do comunismo no País. Regime que, a história mostra, não foi o melhor para os povos onde estão instalados. É preciso ressaltar, nesse contexto, que nem o capitalismo, nos países onde cresceu, de maneira excessiva, é bom para o Brasil nem para qualquer lugar do mundo. Isso em razão de o consumismo, ditado por esse regime, desgastar, sobremaneira, o meio ambiente. Com precária defesa da natureza, reduzida é a possibilidade de vida na Terra.
Para melhorar o Brasil, além da saída do PT do poder, é preciso que lideranças, que gozam de prestígio por serem bons administradores da área pública, e tenham um passado sem ligações com a cultura da corrupção que, por ora, parece estar disseminada na estrutura de poder, tome posse do que lhe cabe: tomar o seu lugar na construção de um novo Brasil.
Esses governantes tem de, em primeiro lugar, fortalecer a educação para que o povo consiga perceber o que está acontecendo, ao seu redor, e se posicione, com firmeza, a fim de não ceder aos atrativos de programas que oferecem renda sem trabalho, e outros assemelhados, que os tornam eleitores cativos, prisioneiros das urnas, e muito mais do que pobres do ponto de vista econômico, mas, sim, como seres humanos improdutivos, que deixam de exercer os seus talentos. Em suma, isso consiste no furto, “permitido”, da dignidade humana.
E vejo essa situação como algo gravíssimo. Um País, onde o Governo Federal reduz os brasileiros, de menor poder aquisitivo, em dependentes econômicos, até as próximas eleições e, assim, sucessivamente, forma um exército de pobres inativos, com baixa auto-estima, e despreparados para o retorno ao mercado de trabalho. E, caso haja uma mudança no poder – e a história mostra que isso ocorre, os nossos conterrâneos enfrentarão uma realidade pior ainda.
Aprender a votar é muito importante. Fortalecer a auto-estima do cidadão, destinando mais verba à educação, é fundamental. Portanto, é essencial, ao meu ver, começar por aí. Enquanto não acontecer isso, continuaremos a ter um exército de frágeis dependentes, que aguardam que o mantenedor continue a colocar “alpiste, no recipiente, na gaiola”. E todos temos asas para voar.
4. A redução da maioridade penal é um assunto muito discutido ultimamente, você é a favor ou contra esse plebiscito?
Sou contra esse plebiscito. Acredito ser, somente, para desviar a atenção do público das notícias sobre tantos crimes de corrupção, de governantes do PT, ou ex-governantes do PT, sob julgamento, ou não, atualmente, em diversas cortes de Justiça no País.
Quanto a redução da maioridade penal, creio que não é a melhor opção para reduzir a criminalidade no Brasil. Óbvio que os menores são usados, como sabemos, por criminosos “mais velhos” para cometer crimes. Ninguém é inocente. Porém, acredito que, para enfrentar essa realidade, e obter êxito, a médio prazo, faz-se necessário, destinar mais verba à educação.
Em colégios bem estruturadas, onde as crianças recebem alimentação balanceada, e conseguem alcançar bom rendimento escolar, são formados bons cidadãos. E, com planejamento – marca dos países que alcançam grandes índices de desenvolvimento, e execução das metas, torna-se natural a ampliação do número de cidadãos voltados para a construção de uma sociedade melhor em todos os sentidos.
Os políticos eleitos, no entanto, devem oferecer aos contribuintes brasileiros legislação que atenda, de forma mais eficaz, a questão apresentada, ou seja, uma forma de combater o uso de menores em crimes mais graves. Com certeza, isso é possível. É necessário, para tanto, que a normatização disso seja elaborada por juristas experientes no assunto.
5. Qual contribuição ainda espera fazer durante a sua carreira?
A criação e instalação de varas federais Ambientais e Agrárias nos estados brasileiros onde há cerrado, bioma presente no Distrito Federal e em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Tocantins, Bahia, Piauí, e Maranhão. A devastação ambiental, nesse bioma, cresce em velocidade duas vezes maior do que na Amazônia Legal, todavia, isso não chama muito a atenção porque essa vegetação não é exuberante como aquela.
Defendo a implantação das varas especializadas porque, nelas, as causas são julgadas com mais qualidade e tramitam com maior rapidez, e, em razão disso, a punição chega, em menor tempo, aos agressores do meio ambiente, inibindo novas delitos e crimes contra a natureza.